O preto e a psicopatologia - 2
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raquelandrade
Admin
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O preto e a psicopatologia - 2
Pensemos, agora, no outro lado da questão. O tópico diria respeito à "interpretação psicanalítica da experiência vivida do negro", também com dois subtópicos, quais sejam:
a) o inconsciente coletivo do antilhano;
b) o problema da moral.
a) o inconsciente coletivo do antilhano;
b) o problema da moral.
Re: O preto e a psicopatologia - 2
É curioso, o autor relata que o inconsciente coletivo do antilhano é não se ver como negro: "negro é quem está na África". Ao ler isso, achei semelhante ao que acontece conosco, brasileiros: não nos vemos como latinos, nos vemos como brasileiros. E, assim como descrito pelo autor sobre o que acontecia com o Antilhano, o mesmo acontece com muitos brasileiros: é preciso sair da terra natal para se ter consciência de quem é, de quais são suas origens.
raquelandrade- Mensagens : 61
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
No caso antilhano parece ficar mais claro a questão do inconsciente coletivo como cultural...
Camila Dias- Mensagens : 21
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Raquel, é como se a experiência do negro fosse refratária, nunca direta. Isso é interessante porque coaduna com os interesses dos grupos hegemônicos.
iurybelchior- Mensagens : 37
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Mas que grupos hegemônicos, especificamente, Iury? Por exemplo, no caso dos antilhanos?
raquelandrade- Mensagens : 61
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Refratária em que sentido?
Camila Dias- Mensagens : 21
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Camila, no sentido de desvio...
iurybelchior- Mensagens : 37
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Raquel, quando o negro não se vê como negro, talvez pela impossibilidade dele ter um coming out, ele deixa de tutelar sua história e fica vulnerável politicamente. O mito preto e a (falta) de visão de si mesmo favorece interesses dominadores.
iurybelchior- Mensagens : 37
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Ah sim!!!!! Agora você me fez lembrar o filme Django, você assistiu?
raquelandrade- Mensagens : 61
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
O personagem do Damuel L. Jackson não se vê como negro. Com isso, ele ajuda o personagem do Leonardo diCaprio, dono de uma fazenda, a vigiar, torturar e punir os negros.
raquelandrade- Mensagens : 61
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
A questão da moral parece ter relação com uma ideia de cor da pele como equívoco, o que explicaria alguns males... Essa questão me lembra um conto do José Agualusa, "Os pretos não sabem comer lagostas". Há uma relação ambígua com a cor da pele, pois se sabe negro fisicamente e só. Outros atributos, como a própria moral, o fazer o bem são características imanentes ao branco. A alma dos antilhanos é branca...
Camila Dias- Mensagens : 21
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
E como o autor diz (p162) é natural que seja assim. Essa herança branca é porque o produto civilizatório vem todo com assinatura europeia.
iurybelchior- Mensagens : 37
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Pois é, nas Antilhas, "o negro, que é branco" (p. 162), associa a moral ao branco (p. 162). Lá, segundo Fanon, naquela altura, "preto é aquele que é imoral" (p. 163). Agora, é aí que a gente poderia explorar a questão do desvio, pois é uma moral que precisa ser superada, essa que tem cor. É preciso desviar, em relação a essa moral, a essa mentalidade. Como dizia Breton, é uma questão de moral.
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Bem, acho que vocês já estão um pouco cansados. Talvez seja melhor parar por aqui. O terceiro tópico seria para a gente pensar a tarefa que Fanon atribui a si próprio, como intelectual martinicano. Ela é muito semelhante à tarefa que os poetas negros contemporâneos imaginam ser a sua, isto é, contribuir para a tomada de consciência a respeito do problema da inferiorização do negro. Tem-se em vista a transformação dessa situação. E se imagina que isso só se possa dar através do entendimento, mesmo que através da “experiência poética”, da condição existencial, social, histórica do negro. É um belo projeto de emancipação, não?
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Belo, de fato. E creio que isso ocorra em outras artes, atualmente. A música tem tido (sempre teve, mas atualmente tenho sentido isso mais presente) um papel crucial nessa emancipação negra.
raquelandrade- Mensagens : 61
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Sim... Bernardo, quando você diz "mesmo que através da 'experiência poética'"... O que quer dizer o 'mesmo que'? Pelo que é possível como desdobramento?
Camila Dias- Mensagens : 21
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Admin escreveu:Bem, acho que vocês já estão um pouco cansados. Talvez seja melhor parar por aqui. O terceiro tópico seria para a gente pensar a tarefa que Fanon atribui a si próprio, como intelectual martinicano. Ela é muito semelhante à tarefa que os poetas negros contemporâneos imaginam ser a sua, isto é, contribuir para a tomada de consciência a respeito do problema da inferiorização do negro. Tem-se em vista a transformação dessa situação. E se imagina que isso só se possa dar através do entendimento, mesmo que através da “experiência poética”, da condição existencial, social, histórica do negro. É um belo projeto de emancipação, não?
Sim, a dimensão poética ( estética) é o que acredito ser a via mais potente para a emancipação. Essa é, se me permitem uma consideração pessoal, um projeto que me move politicamente na Academia. Ela amplia a noção de político.
Bernardo, tô um pouco cansado sim. Tudo bem se pararmos por hoje...
iurybelchior- Mensagens : 37
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Sartre usa a expressão, em seu prefácio, fazendo o elogio da experiência em questão, pois ela daria acesso a camadas mais fundas do sujeito (onde ele também se conecta com o coletivo), lembrando que Sartre não dissocia a poesia da subjetividade. Nesse caso, não estamos longe do que pensava Breton. Entretanto, a poesia não é comumente vista como uma forma de conhecimento, já que o nosso paradigma para o conhecimento é a ciência. Só por isso coloquei o "mesmo que..."
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Sim...foi o que imaginei também. Isso tem total relação com os nossos seminários da Leandra e com alguns de nossos projetos...a questão da pesquisa qualitativa... Vimos, por exemplo, como é escassa a produção reflexiva sobre metodologias em Estudos Literários.
Camila Dias- Mensagens : 21
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Foi muito bom! Abraço a todos!
raquelandrade- Mensagens : 61
Data de inscrição : 09/12/2016
Re: O preto e a psicopatologia - 2
Ok, acho que funcionou bem esse formato.
renanandrade- Mensagens : 9
Data de inscrição : 09/12/2016
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