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Orfeu negro - Tópico 3

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Camila Dias
raquelandrade
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Orfeu negro - Tópico 3 Empty Orfeu negro - Tópico 3

Mensagem por Admin Sex Dez 09, 2016 3:29 pm

Para finalizar essa primeira discussão, gostaria que conversássemos um pouco sobre as relações entre a negritude, a memória coletiva e o devir, destacando, como subtópicos:

a) a relação da poesia negra com um "passado histórico" (p. 122);
b) a mobilização da memória coletiva animando o devir da negritude;
c) a negritude como "reflexo de ser e dever-ser" (p. 125);
d) a negritude como "tempo fraco de uma progressão dialética" (p. 126), associada aos conceitos de particular e universal.

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Mensagem por raquelandrade Sex Dez 09, 2016 3:41 pm

Halbwachs já afirma que "ninguém lembra sozinho". Isso aparece também no segundo texto, quando se questiona "de onde vem medos e fobias", mesmo em pessoas que não vivenciaram (nem viram alguém próximo vivenciar) situações de traumas. Esse inconsciente coletivo é apresentado tanto por parte do negro que nunca sofreu racismo mas sente medo ao imigrar para a Europa e estudar na Sourbonne quanto por parte do branco que nunca sofreu nenhuma agressão mas sente medo ao ver um negro. São pré-conceitos (no sentido de conceitos pré- concebidos) que se passam coletivamente e quase que inconscientemente...

raquelandrade

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Mensagem por Camila Dias Sex Dez 09, 2016 3:42 pm

Reconhece-se negro e, ao mesmo tempo, reconhece-se escravo...servo...

Camila Dias

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Mensagem por raquelandrade Sex Dez 09, 2016 3:43 pm

Césaire parece ser aquele que inicia um movimento de "negritude como reflexo de ser e dever-ser", no sentido de que parece criar um conceito e iniciar uma busca por abraçar a negritude, algo mais ativo...

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Mensagem por Lídia Generoso Sex Dez 09, 2016 3:50 pm

A questão da negritude como "tempo fraco de uma progressão dialética, para o autor, gira em torno da seguinte premissa: a supremacia branca é uma tese, à qual a negritude e a valorização do seu ser e do seu devir apresentam uma antítese. Em função da instabilidade própria da dialética, a negritude existe em um limiar, na busca pela produção de uma nova síntese que seja capaz de abordar a universalidade da existência humana sem para isso apagar particularidades.

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Mensagem por raquelandrade Sex Dez 09, 2016 3:51 pm

Camila Dias escreveu:Reconhece-se negro e, ao mesmo tempo, reconhece-se escravo...servo...

Camila, uma das adaptações que vou usar na minha dissertação, traz um Heathcliff negro. Muitos dos conflitos que surgem na trama do filme (além, é claro, dos que já estão presentes no romance), advém do fato de Heathcliff não se ver nem se comportar como um escravo e isso causa a ira dos brancos. Creio que a diretora ter feito a opção de colocar um Heathcliff negro que se rebele, ainda que em silêncio, contra essa condição é uma escolha que representa exatamente essa ideia da negritude como uma forma de se fortalecer, de se libertar do olhar do "outro", de se libertar dessa condição de ser visto (e se ver) como um escravo...

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Mensagem por iurybelchior Sex Dez 09, 2016 3:54 pm

É curioso.. porque ao mesmo tempo que há um passado muito substancial, massivo, há a emergência desse devir. Ele, de alguma forma, não é uma construção do futuro, penso, mas uma forma de "escovar a história a contrapelos..." Desculpem, nessa parte eu não resisti, tive que mencionar Benjamin.

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Mensagem por Camila Dias Sex Dez 09, 2016 3:55 pm

raquelandrade escreveu:
Camila Dias escreveu:Reconhece-se negro e, ao mesmo tempo, reconhece-se escravo...servo...

Camila, uma das adaptações que vou usar na minha dissertação, traz um Heathcliff negro. Muitos dos conflitos que surgem na trama do filme (além, é claro, dos que já estão presentes no romance), advém do fato de Heathcliff não se ver nem se comportar como um escravo e isso causa a ira dos brancos. Creio que a diretora ter feito a opção de colocar um Heathcliff negro que se rebele, ainda que em silêncio, contra essa condição é uma escolha que representa exatamente essa ideia da negritude como uma forma de se fortalecer, de se libertar do olhar do "outro", de se libertar dessa condição de ser visto (e se ver) como um escravo...

Sim, Raquel... Não sei se usei os termos corretos, mas quis dizer daquilo que Fanon levanta no outro texto, sobre como os negros se comportam em países europeus. Parece existir o tal "inconsciente coletivo" que agiria, em certo sentido, na manutenção da condição de subserviência... Acho super difícil pensar isso...ainda mais não sendo negra, né...

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Mensagem por raquelandrade Sex Dez 09, 2016 3:57 pm

Camila, lembrei exatamente dessa parte! É uma questão mesmo de inconsciente coletivo, Fanon aborda isso muito bem... E é a memória coletiva de Halbwachs, né?

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Mensagem por Marice Gonçalves Sex Dez 09, 2016 3:57 pm

raquelandrade escreveu:Halbwachs já afirma que "ninguém lembra sozinho". Isso aparece também no segundo texto, quando se questiona "de onde vem medos e fobias", mesmo em pessoas que não vivenciaram (nem viram alguém próximo vivenciar) situações de traumas. Esse inconsciente coletivo é apresentado tanto por parte do negro que nunca sofreu racismo mas sente medo ao imigrar para a Europa e estudar na Sourbonne quanto por parte do branco que nunca sofreu nenhuma agressão mas sente medo ao ver um negro. São pré-conceitos (no sentido de conceitos pré- concebidos) que se passam coletivamente e quase que inconscientemente...

Concordo com seu comentário, Raquel. E acho legal complementá-lo com a ideia que vem logo depois de que a memória coletiva negra permitiu a criação de uma gesta negra, já que a lembrança negra segue um padrão.

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Mensagem por raquelandrade Sex Dez 09, 2016 4:00 pm

Exatamente, Marice! Acho que isso é exemplificado com maestria por Fanon. Acho que a ideia é exatamente esta.

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Mensagem por Lídia Generoso Sex Dez 09, 2016 4:01 pm

iurybelchior escreveu:É curioso.. porque ao mesmo tempo que há um passado muito substancial, massivo, há a emergência desse devir. Ele, de alguma forma, não é uma construção do futuro, penso, mas uma forma de "escovar a história a contrapelos..." Desculpem, nessa parte eu não resisti, tive que mencionar Benjamin.

De fato, Iury, a proposta de história do Benjamin é extremamente apropriada para essa discussão, essa associação, ou esse uso conjunto de autores da negritude como Césaire, e do pan-africanismo como Fanon, conjuntamente com a obra do Walter Benjamin está presente em inúmeros pensadores de teoria pós-colonial. Ambos textos aparecem como algo como fundadores dessa história a contrapelo que é, também, contra-hegemônica e crítica do projeto de civilização ocidental.

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Mensagem por Camila Dias Sex Dez 09, 2016 4:01 pm

Tem uma fala do Sartre que não ficou clara pra mim: "De pronto, o negro se historiza na medida em que a intuição do sofrimento lhe confere um passado coletivo e lhe atribui um objetivo no futuro" (p. 123). Historizar-se em que sentido?

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Mensagem por iurybelchior Sex Dez 09, 2016 4:02 pm

Penso que a negritude como tempo fraco de uma progressão dialética diz respeito, portanto, a sua transitoriedade. O problema é que certas visões muito calcadas em identidades fixas só reforçam a opressão, não contribuindo, portanto, para a relação dialética. Em termos hegelianos, a negritude deveria aparecer como um traço contingencial. Na minha leitura, o ideal é que essa gota d'água desague no oceano... Alguns grupos parecem ter uma resistência a esse misturar-se, como se isso fosse a morte de uma cultura e tradição. Acredito que a relação universal x particular se preserva num movimento contínuo e paradoxal, mas que não será, de jeito nenhum, aquele particular, mas já um outro dele mesmo. De certa forma, rodei em círculos, isso nos leva de volta a questão da memória.

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Mensagem por raquelandrade Sex Dez 09, 2016 4:04 pm

Complexo, Camila.... Mas acho que no mesmo sentido em que a Shoah, através da Literatura de testemunho, torna-se uma representação e um registro do que ocorreu com os judeus. Talvez seja isso que ele queira dizer: o sofriemento torna-se um denominador comum e assim passa a ser um registro histórico, coloca todos "no mesmo barco"...

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Mensagem por renanandrade Sex Dez 09, 2016 4:08 pm

Camila Dias escreveu:Tem uma fala do Sartre que não ficou clara pra mim: "De pronto, o negro se historiza na medida em que a intuição do sofrimento lhe confere um passado coletivo e lhe atribui um objetivo no futuro" (p. 123). Historizar-se em que sentido?

Talvez no sentido de assumir sua condição e reconhecer seu passado.

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Mensagem por raquelandrade Sex Dez 09, 2016 4:09 pm

E esse objetivo no futuro pode ser, também como na Literatura de Testemunho e a Shoah, o de não deixar as coisas se repetirem... Manter a memória de um grupo viva...

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Mensagem por Admin Sex Dez 09, 2016 4:11 pm

É fundamental mesmo observar que o passado deve ser mobilizado tendo em vista a transformação da situação contemporânea do negro, no mundo. O sofrimento (a servidão, no presente, a escravidão, no passado), como experiência histórica (historicizada) coletiva, comporta em si mesmo, segundo Sartre, “a sua própria recusa”, abrindo-se “para a revolta e para a liberdade” (p. 123). Quanto à superação da negritude, já que é o “tempo fraco de uma progressão dialética” (p. 126), as colocações de Sartre podem ser polêmicas, sobretudo, diante de algumas posições dos movimentos negros de hoje. Sendo a negritude um “racismo anti-racista”, seria preciso que ele fosse superado por uma posição não racista, ou seja, não particularista, para benefício da humanidade como um todo, uma humanidade, agora, ampliada, e, por isso mesmo, universal. É o que parece pensar o filósofo. Fechemos a discussão,então, para começar os trabalhos com o próximo texto.

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Mensagem por iurybelchior Sex Dez 09, 2016 4:12 pm

Camila Dias escreveu:Tem uma fala do Sartre que não ficou clara pra mim: "De pronto, o negro se historiza na medida em que a intuição do sofrimento lhe confere um passado coletivo e lhe atribui um objetivo no futuro" (p. 123). Historizar-se em que sentido?

Acho que no sentido de se fazer sujeito do seu tempo. Não concordo com isso, mas acho que é isso. rs... Hitoricismos... Mad

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Mensagem por Camila Dias Sex Dez 09, 2016 4:12 pm

Pois é...mas essa questão da representação em relação aos negros parece um pouco mais confusa do que no caso dos judeus... A situação dos negros não se refere a um acontecimento específico e, mais do que qualquer outro evento catastrófico da humanidade (talvez pretensioso dizer isso), ela se prolonga ao longo de séculos... Nos é atual...

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Mensagem por raquelandrade Sex Dez 09, 2016 4:15 pm

Concordo, Camila... É menos pontual e, infelizmente, perdura até os dias de hoje...

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