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Orfeu negro - Tópico 1

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Lídia Generoso
Camila Dias
raquelandrade
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Orfeu negro - Tópico 1 - Página 2 Empty Re: Orfeu negro - Tópico 1

Mensagem por Marice Gonçalves Sex Dez 09, 2016 2:51 pm

Segundo Sartre o que impede o proletariado branco de dar vazão à poesia são os impedimentos da luta de classes e da tecnicidade necessária para exercer suas funções no trabalho. O que não quer dizer que ele seja incapaz de produzir poesia, o que lhe falta é uma poesia que seja ao mesmo tempo social e subjetiva. E para tal, seria necessária uma tomada de consciência de si, não como um meio de localização social, como fez o proletariado branco, mas como uma imersão em si.
O negro, nesse caso, consegue criar a poesia revolucionária porque a partir da tomada de consciência de si mesmo, individualmente, consegue expor a alma negra e torna-se exemplar para a coletividade. Como podemos ver nesse trecho: "O preto que chama seus irmãos de cor a tomarem consciência de si próprios tentará apresentar-lhes a imagem exemplar de sua negritude e voltar-se para a sua própria alma a fim de captá-la. Ele quer ser farol e espelho concomitantemente" (p. 100). E Sartre segue dizendo que a poesia negra tem uma só ideia, que é manifestar a alma negra, uma negritude reencontrada.
Só que o problema é que a expressão dessa alma negra é mediada pela técnica branca, ou seja, não há uma língua negra em que a poesia possa ser expressada, e o poeta é obrigado a expressar-se em uma língua assimilada dos brancos. Então, o poeta, como Orfeu, se aprofunda no "inferno resplandescente da alma negra" para "arruinar sistematicamente" o saber europeu usando suas próprias armas, incita então o oprimido por meio da língua do opressor. Através do "aparelho de pensar" do inimigo angaria uma grande audiência negra e difunde a poesia negra.

Marice Gonçalves

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Mensagem por daniela.braga Sex Dez 09, 2016 2:52 pm

raquelandrade escreveu:A impressão que tive é de que, para Sartre, a poesia é o que se cria após "vomitarem a branquidão"(frase na p. 105). Ele parece ver a poesia como uma língua a parte, que surge depois de uma "ingestão" e depois o "regurgitar" do que é branco. Devorar, digerir, selecionar. E o que sobra após este processo cria algo novo, a Poesia, em maiúscula.
Acredito que esse "vomitar" é mesmo desfazer-se da "branquidão" que, inevitavelmente, está incorporada a si, nem que seja somente pelo idioma. Acho que é o que Sarte diz a respeito da revolução do negro: "para construir sua verdade, deve primeiro arruinar a dos outros".

daniela.braga

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Mensagem por iurybelchior Sex Dez 09, 2016 2:54 pm

Ah, já ia me esquecendo de comentar sobre o proletariado branco. Este é "penalizado" pelo autor por não fazer uma poesia minimamente social... acho que essa crítica é pesada demais. De forma análoga, essa valoração foi feita com Machado de Assis e Claice Lispector. Sendo bem franco, achei muito ranço de marxista fazer isso... A parte interessante talvez é quando ele fala da autoconsciência e do trabalho com a linguagem, "sobre um revés da linguagem..."(p.97)

iurybelchior

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